Ementa:
A atividade promove a prática da empatia como cerne fundamental no aprendizado da Negociação; viabilizando o enfrentamento de desafios cognitivos relacionados à compreensão da empatia e estimulando a capacidade de percepção do outro por meio de recursos sensoriais que não envolvam a "visão de mundo" do aluno e o pré-julgamento que lhe é próprio. Inspirados no fotógrafo cego premiado Evgene Bacar, de maneira lúdica, sinestésica e criativa os alunos vivenciam a empatia para que haja a troca de "olhares" e perspectivas e para que as fotografias reproduzam a somatória das visões de mundo de ambos naquele instante. A foto, assim, é uma representação de um possível acordo que a negociação integrativa/colaborativa pode construir.
Prêmio Destaque na 3ª Edição do Prêmio Esdras de Ensino do Direito (2020).
Atividade sem revisão pela autora.
Objetivo:
OBJETIVOS GERAIS: A empatia é uma qualidade inata em todas as pessoas e ter algum grau dela não é algo difícil para a maioria de nós, principalmente no que se refere ao reconhecimento ou detecção das emoções do próximo. No entanto, poucos a aplicam em um contexto profissional. No Direito, e especificamente na negociação, requer prática.
Somos treinados, seja conscientemente na faculdade de Direito e nos locais de trabalho, ou inconscientemente a partir de nossas experiências anteriores, a formarmos julgamentos e opiniões sobre os outros ao invés de absorvê-los e compreendê-los (necessidades, desejos, motivações, contexto, medos e objetivos, entre outros). Esta realidade torna cada vez mais comum a inaptidão de muitos profissionais e estudantes de experimentarem empatia por outras pessoas, principalmente com aqueles que tenham pensamentos, experiências ou modelos mentais conflitantes com os seus.
A empatia exige que deixemos de lado nosso aprendizado, cultura, conhecimento, opiniões e visão de mundo propositalmente, a fim de compreendermos as experiências de outras pessoas de forma profunda e significativa. É necessário um forte senso de imaginação para sermos capazes de ver através dos olhos de outra pessoa. Requer, também, humildade para que possamos abandonar nossas idéias preconcebidas e preconceitos.
A empatia é, portanto, uma habilidade desafiadora e também poderosa. Quando somos empáticos, melhoramos nossa capacidade de receber e processar informações. Colocando-nos literalmente no lugar de outra pessoa e confiando em sua "visão de mundo", uma parte de nosso comportamento subconsciente pode ser tateado ou quiçá alterado; causando mudanças mensuráveis em nosso estilo cognitivo.
A empatia deve ser o ponto de partida de negociações integrativas e colaborativas, pois ela facilita a compreensão dos interesses e destrava as posições das partes. Esta atividade viabiliza a compreensão cognitiva e sensorial da empatia e também a materializa através da fotografia produzida em conjunto pelos alunos.
HABILIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS: Empatia, Criatividade, Trabalho em Equipe, Comunicação, Escuta Ativa e Colaboração.
CONTEÚDOS TRABALHADOS: Conceito de Empatia, Empatia na Negociação, 7 Elementos da Negociação de Harvard, bem como Empatia e Bodystorming no Design e Design Thinking
Dinâmica:
MÉTODO DE ENSINO: Simulação, Aprendizagem baseada em experiência, Design Thinking- Bodystorming
PREPARAÇÃO DOCENTE PRÉVIA:
Recomenda-se que o professor se sinta confortável em trabalhar de maneira lúdica e sensorial. A ludicidade é uma dimensão da linguagem humana que é capaz de dar significado, ressignificar e transformar (seu) mundo. Dessa forma, a ludicidade é uma possibilidade e uma capacidade de se brincar com a realidade, ressignificando o mundo.
O "brincar lúdico" proposto nesta atividade é sério, uma vez que necessita de atenção, confiança na proposta e concentração. Atenção no sentido de que envolve muitos aspectos inter-relacionados; concentração na forma de requerer um foco, mesmo que momentâneo, para motivar a proposta e conquistar a confiança dos alunos e a participação dos mesmos. O brincar proposto desperta a curiosidade, a imaginação, estimula a criatividade e o trabalho em equipe, bem como a comunicação; viabilizando a prática da empatia pelos alunos ao seu final.
Recomenda-se também que o professor busque leituras e conteúdos sobre a empatia em processos de Design, especificamente conhecendo e compreendendo os conceitos de mapa de empatia e bodystorming para que se sinta confiante de trabalhar fisicamente com essa habilidade.
PREPARAÇÃO PRÉVIA DE ESTUDANTES: Os alunos são convidados a assistirem à íntegra do documentário "Janela da Alma", bem como assistirem à performances de Marina Abramovic materializando a violência da ausência de empatia ("Rhythm O") bem como a potência da presença de empatia ("The Artist is Present").
INTRODUÇÃO DA DINÂMICA:
1 - Diálogo Socrático - O que é empatia? (15 minutos).
2 - Apresentação Teórica de Empatia - conceitos de empatia, uso de metáforas e a arte como inspiração (Evgen Bavcar, Marina Abramovic e Ulay) através da apresentação de imagens e vídeos (20 minutos).
DESENVOLVIMENTO DA DINÂMICA:
3- Divisão da turma em duplas caso seja possível o deslocamento dos alunos para fora da sala de aula de modo que paisagens/ruas/prédios/etc. possam ser os objetos retratados. Caso a atividade tenha que ser desenvolvida dentro da sala de aula, a sala deve ser dividida em trios de modo que 1 dos alunos seja o modelo, ou o "objeto retratado" da fotografia. É fundamental que alunos que já se conheçam sejam separados pois o objetivo é que alunos "desconhecidos" trabalhem juntos (5 minutos).
4 -Inspirados no vídeo de Evgene Bacar, as duplas ou trios outrora formados vão se revezar para que todos tenham a oportunidade de realizar as atividades seguintes: (a) um dos alunos desempenhará o papel do fotógrafo cego, fotografando de olhos fechados; (b) outro aluno será o guia do fotógrafo cego, descrevendo e detalhando em palavras para o fotógrafo cego informações sobre luz, sombra, paisagem, conteúdo, distância, etc.; e (c) caso não seja possível o deslocamento dos alunos para fora da sala de aula, eventuamente um terceiro aluno será o "objeto retratado" da fotografia. As fotos reproduzem a somatória das visões de mundo dos alunos naquele instante em que constrem empatia. (20-30 minutos).
ENCERRAMENTO:
5 - Exibição de 1 fotografia por dupla ou trio para todos os alunos com descrição da imagem e da experiência. Coleta de feedback anônimo através de aplicativo colaborativo (por exemplo, Mentimeter) sobre a experiência. O que você aprendeu? O que funcionou? O que não funcionou ? (20-30 minutos).
6 - Apresentação dos 7 Elementos da Negociação e amarração da atividade como ponto inicial para qualquer negociação estruturada (20-30 minutos).
LINKS DE VÍDEOS PARA A ATIVIDADE:
Avaliação:
Sugiro que a atividade deve ser optativa, a princípio. Portanto, não me parece adequado dar uma nota para a atividade. Pode, sim, ser construído um consenso entre todos para que a atividade conte nota de participação - mas dependerá do contexto de cada classe. Isto é, caso nenhum aluno tenha se negado a realizá-la, me parece confortável um acordo em sala de aula de que a atividade contará como um dos pontos para a nota de participação e/ou que as fotografias finais sejam objeto de votação/concurso ou exibição em galeria virtual com nota aferida por todos alunos.
Observações:
SUGESTÕES DE ATIVIDADES DE “CONSOLIDAÇÃO” A SEREM DESENVOLVIDAS PELOS ALUNOS (ATIVIDADES EXTRACLASSE): Criação de Mapa de Empatia (Design Thinking) caso a atividade seja aplicada para um caso concreto previamente apresentado de modo que o exercício da empatia possa viabilizar o mapeamento adequado de interesses das partes, posições, alternativas, etc.
CUIDADOS A SEREM OBSERVADOS: Como toda atividade lúdica, criativa e sensorial, alguns alunos podem se mostrar desconfortáveis com a proposta. Criar um ambiente de acolhimento e de construção conjunta da proposta, bem como de validação da mesma, é fundamental. Assim, é importante que já exista confiança entre o professor e os alunos e que a atividade seja optativa de modo que qualquer aluno que se sinta desconfortável possa optar por não participar. O engajamento deve ser almejado, mas a participação não deve ser obrigatória.